sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Jochen Rint: o único campeao "post-mortem"

No dia 5 de setembro completou 40 anos que Jochen Rindt morreu. E não há como deixar de pagar tributo àquele que é até hoje o único campeão “post-mortem” da história da Fórmula 1 e um dos raros em qualquer competição automobilística. Que eu saiba, outro que também foi campeão após falecer num acidente foi Paul Warwick, na Fórmula 3000 inglesa.
 
A trajetória de Rindt no automobilismo é digna de registro. A começar que, embora defendesse a Áustria, Rindt era alemão. Nasceu em Mainz, no dia 18 de setembro de 1942, quando a II Guerra Mundial já estava no auge. A primeira grande perda de Jochen foi ainda menino: seus pais morreram num bombardeio em Hamburgo e ele foi criado pelos avós em Graz, em território austríaco, livre da tirania nazista.

Em 1964, com apenas 22 anos de idade, estreou na Fórmula 1 ao mesmo tempo que despontava como um corredor de ponta na Fórmula 2. Andou em sua primeira corrida com um Brabham BT11 de motor BRM V8, alinhado por Rob Walker, no antigo circuito de Zeltweg, abandonando em razão de problemas na direção.

No ano seguinte, assinou um contrato com a Cooper para disputar provas da categoria máxima com esta marca, enquanto na F-2 ainda mantinha a parceria com Jack Brabham a bordo dos notáveis Brabham-Honda da categoria de acesso. Com a Cooper, Rindt permaneceu por três temporadas. Na primeira, fez seus primeiros pontos na Fórmula 1 com um 4º lugar na Alemanha (Nürburgring) e um sexto na Cidade do México. Naquele mesmo ano de 1965, Rindt venceu em dupla com Masten Gregory a bordo de uma Ferrari 250 LM as tradicionalíssimas 24 horas de Le Mans.

O segundo ano de contrato entre Rindt e a Cooper foi muito positivo, apesar do conjunto meio pesadão formado pelo chassis T81 do construtor britânico no qual foi acoplado o velho motor Maserati V12 dos anos 50, potente e beberrão. Apesar das dificuldades, o austríaco brilhou: fez 24 pontos (22 válidos) e três pódios, com dois segundos lugares na Bélgica e nos Estados Unidos, além de um 3º posto na Alemanha.

Em 67,  já com Bernie Ecclestone como empresário, Jochen não foi além de seis pontos e um 13º lugar no campeonato de Fórmula 1, numa temporada muito irregular. O relacionamento com a equipe já dava evidentes sinais de desgaste e Rindt, motivado pela parceria com Jack Brabham na Fórmula 2, assinou para a temporada seguinte também na F-1.

A decisão parecia perfeita porque, afinal de contas, a Brabham foi a equipe mais bem-sucedida no início da era dos motores de 3 litros de capacidade cúbica, com títulos do próprio Jack em 1966 e do neozelandês Denny Hulme, em 1967, que saíra para se juntar a Bruce McLaren em sua recém-criada escuderia. Mas os motores Repco V8 na nova versão revelaram-se um malogro, com constantes falhas mecânicas. Rindt fez apenas dois pódios, com dois terceiros lugares na África do Sul e na Alemanha e fechou o campeonato num distante 12º lugar.

O austríaco gostava de desafios e para 1969 ele aceitou um daqueles bem encarniçados: suceder Jim Clark como piloto da Lotus 49, o revolucionário projeto de Colin Chapman que integrava o chassi de sua criação ao motor Ford Cosworth V8 desenvolvido por Kevin Duckworth e Mike Costin. A temporada não começou bem: Jochen (foto ao lado) demoliu seu carro contra uma barreira de proteção quando o aerofólio traseiro de seu carro quebrou a mais de 220 km/h, provocando fratura de crânio no piloto, que não correu em Mônaco e voltou na prova seguinte em Zandvoort, na Holanda.
 
Na segunda metade do campeonato, Rindt e a Lotus melhoraram positivamente seu desempenho. Após um injusto 4º lugar na Inglaterra, quando brigou de igual pra igual com Jackie Stewart, foi segundo em Monza, a centésimos do escocês voador. Chegou ainda em 3º no Canadá e no GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen, veio a consagração. Depois de uma corrida impecável, o piloto austríaco, então com 27 anos, venceu pela primeira vez na Fórmula 1.

Em 1970, a Lotus estava pronta para retomar a hegemonia perdida com a morte de Clark e com o acidente de Graham Hill, sofrido um ano antes, onde o veterano bicampeão mundial quebrou as pernas numa batida. E Rindt, como piloto número 1 da equipe na Fórmula 1 e também na Fórmula 2, era a esperança de Colin Chapman para recolocar o Gold Leaf Team Lotus no caminho natural das vitórias.
 
A primeira do ano veio ainda com o velho modelo 49C, graças à falta de combustível no carro de Jack Brabham na última volta do GP de Mônaco. E quando o modelo 72C finalmente ficou pronto, a sinergia entre ele e Rindt foi perfeita: quatro vitórias de forma consecutiva (Holanda, França, Inglaterra e Alemanha), somadas com o triunfo de Mônaco, o deixaram com 45 pontos e líder isolado do campeonato. Nem a quebra acontecida no GP da Áustria, logo na 22ª volta, abalou a moral de Rindt diante dos seus compatriotas.

O GP da Itália, décimo do campeonato, seria decisivo para as pretensões de Rindt e ele estava preparado para uma dura batalha contra Jacky Ickx, Clay Regazzoni e Ignazio Giunti, a trinca da Ferrari que tanto lhe dera trabalho em Österreichring na corrida anterior. Mas o fim de semana não começou bem para a Lotus: seu novo companheiro de equipe naquela época, o brasileiro Emerson Fittpaldi, tentava participar de sua 4ª corrida na Fórmula 1 e na ânsia de mostrar serviço, distraiu-se numa freada, bateu na traseira da Ferrari de Giunti e decolou com seu carro em direção às árvores da curva Parabólica. Detalhe: com o carro que seria de Rindt naquele fim de semana.

Colin Chapman determinou a troca de carro e Emerson assim cedeu seu chassi ao companheiro de equipe, que estava inscrito para aquela prova com o número #22. O brasileiro tinha o número #26 e foi para a pista com o chassi que seria do austríaco para a prova de classificação, no dia 5 de setembro.

Mas a tragédia, presente na vida de Rindt desde a infância, se fez presente naquela tarde. O piloto freou forte para tomar a Parabólica saindo da reta oposta em direção à reta dos boxes e tribunas, quando alguma coisa quebrou na Lotus e o líder do campeonato bateu violentamente na barreira de proteção. Seu carro saiu rodando pela areia, com o piloto inerte, a suspensão dianteira demolida e as pernas de Rindt para fora do cockpit.

Ele foi levado às pressas para um hospital, mas os ferimentos extensos tornaram impossível qualquer tentativa de recuperação. Aos 28 anos, Jochen Rindt, líder absoluto do Mundial de Fórmula 1 de 1970, estava morto. A Lotus não disputou a corrida, vencida por Clay Regazzoni com a Ferrari e também não foi ao Canadá, onde a vitória foi de Jacky Ickx.

Subitamente sem seu principal piloto, Colin Chapman tomou uma arriscada decisão. Levou para o GP dos EUA em Watkins Glen o brasileiro Emerson Fittipaldi, guindado à condição de piloto número um e o sueco Reine Wisell, sem nenhuma experiência prévia na categoria, que brilhara na Fórmula 3 europeia, para assumir o volante do segundo carro. E para surpresa geral, Emerson não só venceu a corrida, como ofertou a Rindt o inédito título “post-mortem”, até hoje um feito jamais alcançado na história da Fórmula 1.

Rindt morreu sem conhecer a maior glória de sua carreira. Mas os fãs austríacos e o mundo do automobilismo não esquecem de sua passagem pelo esporte, com demonstrações de garra, muita velocidade e um controle fantástico dos carros que guiava. Por isso, deixou muita saudade.

Nenhum comentário: