sábado, 11 de setembro de 2010

Nostalgia urbana (VII) VW 1600 1968

Finalmente encontrei o "Zé do Caixão"... e claro, fotografei para minha coleção particular de antigos. Já vinha tentando registrá-lo a algum tempo mas inúmeros foram os desencontros. 

O "Zé" pertence ao amigo Eli do Nascimento (Eli da retífica como é conhecido). E aqui em Congonhas e região é difícil ver um exemplar em bom estado como esse. Ainda mais o modelo do primeiro ano de fabricação. 

Agradeço aqui a atenção dada pelo sempre gentil Eli... Valeu!


Um pouco da história:

Em 1968, a Volkswagen chegava ao impressionante número de 600 mil veículos fabricados no Brasil e em função do grande aumento de produção em suas linhas, teve de abrir mais 2000 vagas para novos funcionários.

A Volks continuava vendendo como nunca, tendo o Fusca como carro chefe e oferecendo também o utilitário Kombi, juntamente com o esportivo Karmann-Ghia.

Seus carros tinham mecânica robusta, de fácil manutenção, grande economia de combustível e preços extremamente competitivos, atrativos irresistíveis ao consumidor. Foi aí que o então presidente da Willys Overland do Brasil, Willian Max Pearce, começou a idealizar uma “fórmula” para deter o avanço da Volks, notadamente do Fusca, no setor de carros econômicos. Surge então o nascimento do projeto "E" (de econômico), que consistia na idéia de se lançar um veículo econômico e de baixo custo de fabricação, resultando num concorrente à altura do até então imbatível Fusca.

Infelizmente, estudos realizados na época tiveram resultados nada otimistas: Dificilmente o Willys “E” conseguiria ser fabricado por um custo menor ou pelos menos similar ao do Fusca. Deste modo, a Willys mudou de estratégia, rebatizando o projeto “E” para projeto “M” (de médio), associando-se à Renault para o desenvolvimento do modelo. No mesmo ano, no entanto, a Willys foi comprada pela Ford, mas esta não abandonou o projeto “M”, continuando a investir na idéia, que posteriormente daria origem ao Corcel!

Surge o VW 1600 4 portas


O VW 1600 quatro portas era exatamente uma resposta ao Projeto “M” da Willys (posteriormente Ford-Willys) que curiosamente chegou a ser chamado de “Brasília”, nada tendo a ver com a "verdadeira" Brasília, lançada pela Volks somente em 1973.

A Volks, ainda em 1968, preparava o lançamento da Variant, que inicialmente chegou a ter a sua frente copiada do VW 1600, e lançou a versão conversível do Karmann-Ghia. Sendo assim, estreou em dezembro de 1968, no “VI Salão do Automóvel” em São Paulo, o VW 1600 Sedan 4 Portas, que foi lançado juntamente com seu grande rival: o Corcel, da Ford-Willys (depois, apenas Ford).

Os motivos que levaram a Volkswagen a interromper definitivamente a fabricação do VW 1600 4 portas são até hoje bastante controversos. Nos dois anos em que ficou no mercado (1969 e 1970, tendo sido lançado em dezembro de 1968), chegaram a ser produzidas 24.475 unidades do modelo, que manteve um bom número de vendas até o término definitivo de sua fabricação, ainda em 1970. Costuma-se considerar, que um dos fatores determinantes da retirada de linha do VW 1600, teria sido a grande aceitação deste modelo entre os taxistas, o que teria feito com que o seu "status" junto ao consumidor em geral, diminuísse, e em consequência disso, as suas vendas, apesar de boas, não estariam satisfazendo plenamente às espectativas da Volkswagen. O fato é que a preferência do consumidor na época era bem diferente da de hoje em dia, sendo que os automóveis de duas portas eram os de maior aceitação, e não os de quatro portas. É daí que se explica a predominância do modelo junto aos taxistas.

Talvez o VW 1600 4 portas fosse “o carro certo no momento errado”...A Volks, ainda com esperanças de melhorar a vendagem do VW 1600 4 portas, chegou a produzir uma versão de luxo, com diversos melhoramentos em relação à versão inicial, mas que não serviu para melhorar substancialmente as vendas do modelo.

O apelido "Zé do Caixão"


Outro aspecto interessante na curta carreira do “4 portas”, foi o apelido que ele ganhou, em função do formato quadrado e possuir maçanetas distribuídas de forma uniforme pela lateral da carroceria, o carro foi logo associado a um caixão. Na época, o ator e cineasta brasileiro de terror, José Mojica Marins fazia sucesso entre os apaixonados por filmes de terror com o seu famoso personagem "Zé do Caixão", e alguns meses antes do lançamento do VW 1600, tinha lançado o filme "O estranho mundo de Zé do Caixão", em 1968. Coincidência ou não, o apelido pegou.
Pegou de tal maneira que o carro passou a ser mais conhecido por seu apelido do que por seu verdadeiro nome: VW 1600, que talvez soasse para muitos com pouca personalidade. Tal denominação, “Zé do Caixão”, ainda que dada com simpatia por muitos, acabou tendo um sentido predominantemente pejorativo, e contribuiu para abalar ainda mais o prestígio do modelo junto ao mercado consumidor.

Muitos também chamavam o VW 1600 4 portas de "Fusca 4 portas".

Fim da produção

Mas, sem dúvida, o fato mais crítico ocorrido na meteórica passagem do VW 1600 pelo mercado automobilístico brasileiro, se deu no dia 19 de Dezembro de 1970. Um incêndio de grandes proporções atingiu a fábrica da Volks, destruindo cerca de 30% de seu maquinário, e este só foi completamente debelado aproximadamente 12 horas após seu início.

Lamentavelmente, logo após este incidente, a Volkswagen do Brasil interrompeu definitivamente a produção do VW 1600 Sedan 4 portas, mas continuou a produzir normalmente os demais modelos oferecidos na época, tais como o Fusca e Kombi. A Vokswagen até que se recuperou bem do incêndio, conseguindo em Agosto de 1971, o reestabelecimento total da marca de aproximadamente 1200 automóveis fabricados ao dia. Uma recuperação considerada em tempo recorde.

Infelizmente porém, para o VW 1600 4 portas, já era tarde demais..., o fim definitivo havia chegado.


No final de dezembro de 1970 foi decretado o fim de sua produção para dar lugar ao TL.

Hoje, o modelo é considerado uma raridade pelos colecionadores e é muito valioso, desde que esteja bem conservado.

 
Ficha Técnica (modelo VW1600 1968):

Origem e Fabricação: Volkswagem - Alemanha, Volkswagem - Brasil
Chassi e Carroceria: tipo plataforma - separados
Disposição: motor e tração traseiros
Peso: 862kg
Entre eixos: 2.400mm
Motor: 4 cilindros boxer OHV, 1.584cm3 arrefecido a ar e 60hp (SAE) a 4.600 rpm ou 50cv (DIN) a 4.200 rpm
Diâmetro x curso: 85,5 x 69mm
Combustível: Gasolina
Torque máximo líquida: 11,5 kgfm a 2000 rpm
Câmbio: manual de 4 marchas
Suspensão dianteira e traseira: barras de torção
Velocidade máxima: 130 km/h reais

Recordar é viver...

6 comentários:

Marco Antônio dos Santos - Cascavél-PR disse...

Caro amgio André,

li a matéria sobre o "Zé do Caixão" e gostei muito. Achei muito completa. Fiquei sabendo através do blog "VW 1600". Sou paranaense a apaixonado por este carro.

Valeu!

Anônimo disse...

Eita carrinho legal. Bela matéria. Fica sempre a lembrança de bons tempos.

Carlos Eduardo de Souza, Natal/RN

Anônimo disse...

André, é fascinante o que vc tem publicado a respeito de carros antigos. Estou admirado com seu trabalho.

Parabén. Clério Reis - Congonhas

Anônimo disse...

o apelido do carro já diz tudo. Parabéns André. Seu blog está muito legal e faz a gente voltar no tempo.

Anderson Xavier - Ouro Branco-MG

Anônimo disse...

Realmente o carro é quadrado e lembra muito um caixão. Pena que a gente vê poucos por aí.

Aqui em Lafaiete já vi um na cor branca.

Valeu> Bernardo

Euller Guimaraes - Barbacena disse...

Zé do caixão.. eu não sabia do apelido mas que parece um caixao, ah isso parece. Gostei do carro.